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O nó nas veias

Concebo um ritmo próprio para viver. Tudo circula em minhas veias de modo responsável, desde as coisas que prezo por manter no trabalho da consciência até os ritos, as catarses e os mitos do inconsciente pessoal e coletivo.

Minha postura, em algum lugar baixo no panteão das religiosidades pessoais, se refere aos dramas da vida cotidiana em que a virtualização do mundo nos torna protagonistas sujeitos a grandes sistemas doutrinários que funcionam aquém das vivências. Somos obrigados a viver melodramas nos moldes de nossas rotinas?

Somos pessoas angustiadas que vivem pregando totalidades ideológicas, mas vivendo fragmentariedades e multiplicidades, ainda que intimamente. O contato com o diferente, com o outro, com o que não reconhecemos e com o que não nos adequamos é constante e nos desafia as certezas prontas.

"Se eu disser que dei nó em minhas veias pra tentar sentir em mim um coração no peito" (O pregador / Violins), quando podia ter me contentado com meu próprio pulsar óbvio e me perdido um pouco mais nas diferenças do mundo. Se eu disser que foi isso nos últimos anos, é fácil constar o motivo de um viver mais próprio, de um ritmo comum.

O nó nas veias não é requisito quando se respira e tudo pulsa.


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