Subi um degrau para dizer que estou no inferno. Destreinado
da escrita poética, da fala, da audição e do passo, cai no mundo póstumo
pessoal. Usaria a terceira pessoa, mas este conto (que é relato) é o antídoto perfeito contra
este estado letal de insignificância. Aplicá-lo-ei na dosagem possível no ponto
certo: minha veia.
Nunca gostei de hospital, sempre temi a injeção, talvez
porque ela invade um campo que é só meu (batida no gongo, irrompe egoísmo). Escrever
é uma injeção de novos ares que ejetam o caos mental pela urina.
Os mimos que sempre teve... (pausa com baforada) Ah! Mania
de me pensar como um personagem alheio. Então, voltando: Fui mimado demais e
qualquer resfriado me deixa prostrado. Esta é a justificativa que encontrei,
egoisticamente, de me despir de qualquer culpa sobre meu traje moral defeituoso.
Resfriei. Coriza, espirro, tosse... Melhora. A febre acompanhou
e sucedeu a semana toda. Esticado na cama e, às vezes, escorado na cadeira, já
fazia planos de testamento moral: o que vou deixar para posteridade? O médico
cortou meu barato: “É só uma virose”. O que é uma virose? Tudo pode ser virose.
Virose não vem de vírus? Toda doença não é um vírus?
Fiquei ressacado da balada que não curti. A febre não
passava. Desmarquei tudo. Faltei aulas e trampo. Repousei. Revi todos meus
conceitos (todos que lembrei). Não decidi sobre nenhum, mas revi. Agora volto à
esteira, dentro do cubículo transparente do laboratório. Vamos correr (rato na
roda) porque hoje tem prova na faculdade...
Caro amigo.
ResponderExcluirAs vezes
o que mais queremos
é descansar do mundo...
Que a luz da vida
esteja sempre em teu olhar