Pular para o conteúdo principal

Lembro-me da rosa

por JD.

Me rendi a melosas palavras de romance sem entrelinhas ou ironia, desta vez. Para não parecer não ser eu o escrevente, permaneci com meu desleixo habitual em relação à estrutura da poesia. É sempre mais um desabafo que um cântico.

Fiz a grande viagem pro lado de cá, querida,
fiz curta viagem.
Lembro de nossa flor:
Uma rosa vermelha tão fria quanto quente.

No banco, naquela praça,
nosso romance.
Eu e você segurando firmes o caule da rosa,
que afinal você tragou lindamente,
cor e forma em ares de odor visível.

Segurei tão forte e emocionado
que sob minhas mãos descobri espinhos.

A você, por bem,
meu bem,
só coube o odor,
o perfume da rosa do nosso amor.

Os espinhos vim nessa viagem retirá-los,
arrancá-los.
Por amor,
com seu amor, me ajude, assista e ampare.

Na viagem um dia nos reencontraremos para enfim o final feliz.
Parta daí. Espero aqui. Caminho praí.

Se os espinhos da flor são, agora, os últimos resquícios seus,
eu quero os espinhos.
Aperto a mão para cravá-los e, depois, terei de arrancá-los.
Para que as marcas fiquem até que eu possa tocá-la novamente.
Sinto-te pelos espinhos da rosa. Pela rosa remetente do amor.


Copiando o hábil poeta (e ídolo) Aluisio Cavalcante Jr. (http://semvoceeunaoseria.blogspot.com/)...
História do texto: Na habitual viagem de Palmelo à Goiânia, dormi na poltrona do ônibus. Sonhei com um reencontro lindo com uma moça bonita, sabidamente numa praça toda branca, branda. Acordei sutilmente, no meio do caminho (eu acho) e escrevi exatamente estas palavras no celular, enquanto ouvia, no fone de ouvido a canção "Unintended" do Muse. Salvei como rascunho. Dormi de novo. Acordei de novo e fui ler se não sonhei que escrevi. Mas o texto estava ali sim. E agora está aqui, transcrito.

Comentários

  1. Caro amigo

    Há palavras inundadas
    de sentimentos
    que eternizam momentos
    que passariam despercebidos
    se alguém não escrevesse
    sobre eles.

    Obrigado pela referência
    a minha pessoa,
    o que muito me alegra o coração
    pela preciosa amizade,
    e pela valiosa fonte
    que é a sua vida.

    Que os sonhos te envolvam
    a vida, sempre...

    ResponderExcluir
  2. Poxa!! Lendo esse poema me fez recordar de certo momento que vivi...uma certa rosa vermelha que a tenho guardado a algum tempo, que apesar de fria, lhe guarda um perfume. Não é uma rosa assim, natural, mais ainda a tenho guardado...adorei o poema...apesar de tudo, a melhor coisa que trago comigo, são belas recordações de maravilhosos momentos...

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Uma lição de um Desaguar: a profissionalização do ator

A 13ª Mostra Desaguar do Centro de Educação Profissional em Artes Basileu França, que apresentou os espetáculos teatrais de formatura de alunos-atores nos dias 18 a 22 de novembro de 2014, me mostrou um pouco do que talvez eu apenas suspeitasse durante meus dois anos de estudo neste Teatro-Escola e me recordou importantes referências vivas e cotidianas durante meu processo de formação. Na verdade, sou especialista de generalidades humanas. Estudo comunicação e teatro, coisas que todo mundo nasce fazendo, coisas sem as quais a humanidade não seria. Atividades profissionais que sempre causam controvérsias burocráticas. O jornalismo perde seu diploma e todo mundo já fez 'teatrin'. Meu pêndulo balança muito para a comunicação popular e para o teatro do oprimido... Minha experiência até agora já me deu suficientes provas de que, como ferramentas pedagógicas, são libertadoras da condição humana. Por outro lado, meu pêndulo percebe o artista em si mesmo e sua investida profis

Um relato de gratidão sobre a arte de Yashira

Quando eu era pequeno, lembro de ver a Yashira nas ruas de Palmelo. Ela era a louca e eu tinha medo dela, mas achava curioso. Uma parte de mim queria se aproximar dela, foi a parte que depois me levou a fazer curso de teatro e, quando eu atuava, eu lembrava um pouco dela e das performances que ela promovia nas ruas da cidade. Aí eu comecei a entender que era arte o que ela fazia. Mas era uma arte muito estranha, eu não achava bonito. Comecei a achar bonito quando me envolvi ativamente com movimentos ambientalistas durante uns cinco anos e vi que tudo o que ela fazia como arte era sustentável e que ela tinha uma mensagem ecológica. O ativismo dela não era pautado em um coletivo de políticas públicas como o meu, era um envolvimento por inteira. Junto, era uma causa espiritual. Eu entendi isso quando, espírita que sempre fui, tentava compreender o que era mediunidade em mim e ouvi ela dizendo que tudo era mediunidade nela. A arte, a ecologia, a espiritualidade... expandindo mutuamente s

AUTODIAGNÓSTICO: Com toda beleza e abominação.

Todos prometem (e não cumprem) coisas no ano novo, eu não prometo nada. Como flecha de ano novo, encerro 2010 e inicio 2011 com meu autodiagnóstico, encerrando a série "Diagnósticos" do meu blog. Ficha Paciente: João Damásio da Silva Neto. Perfil: http://www.twitter.com/joaodamasio Idade: 19 anos. Cidade: Palmelo/Goiânia - GO. Ocupação: Acadêmico de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Restrições apresentadas: Egoísmo caótico que desregula a timidez. Prescrições: Nunca permitir mais de uma hora ociosa. Diagnóstico rápido: Antagonismo ao espelho. Diagnóstico completo (para quem ousa entender): Única regra para quem ler este diagnóstico: Tudo é mentira! Ora, como pode alguém se autodiagnosticar com sinceridade? Coisa de louco! Mas é minha obrigação, afinal fui ensinado a não julgar e estes diagnósticos mensais onde descrevo todo mundo nos ínfimos detalhes alcançados pela minha pouca visão não é menos que julgamento. Então, que pelo meno