Pular para o conteúdo principal

Para Leonardo Boff: o feminino e a política atual


O presente artigo é em resposta ao título quase homônimo publicado pelo teólogo Leonardo Boff (foto) em: http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4822



“O beijo de moça governará o povo”, talho a meu significado a palavra concedida pelo poeta Marcus Minuzzi. De forma inédita no Brasil, duas mulheres protagonizam eleições presidenciais: a verde Marina Silva e a petista Dilma Rousseff. José Serra estanca politicamente nas urnas, mas não se destaca ideologicamente, porque o povo quer que o feminino governe. Serra não tem nada de feminino, por sorte dele, talvez.

Leonardo Boff nos agraciou no apoio político à mulher que elegera a melhor junto a 19% do eleitorado brasileiro, Marina Silva. Neste segundo turno, o quadro não foge muito ao analítico dos Institutos de Pesquisa: José Serra (PSDB) enfrenta Dilma Rousseff (PT). E o querido teólogo, Boff toma partido pelo que talvez seja o ‘menos pior’, optando e justificando-se pelo feminino. A candidata petista será apoiada por este intelectual.

Boff, você, um dos mais femininos dos homens, merece todo crédito para incitar o melhor para as eleições. Aponto, no entanto, com suas palavras: “não se diz que o homem realiza tudo o que comporta o masculino e a mulher tudo o que expressa o feminino” para o que me parece inadequado; a candidata Dilma não expõe nada do esperado feminino. Apesar de caber a colocação denotativamente, o feminino que não está em Dilma é o conotativo que você cita... O da sensibilidade, de interioridade, de espiritualidade. Cita como primeira característica do feminino a profundidade abissal, algo que nunca soou das palavras rasas e mutantes que, mecanicamente, saíram da boca de Dilma até hoje.

Observação: Se Dilma não é tão feminina quanto afirmou a pouco Boff, Serra ainda menos, com certeza. Não defendo qualquer um e nem mesmo a nulidade. Só pondero que, pela primeira vez, creio que o amigo Leonardo exagera em prol de um bom texto.

A única possibilidade, teólogo, de estares correto é se a candidatura de Dilma vier cumprir o que é dito no evangelho: “Não vim trazer a paz, mas a divisão”, pois sabemos que a solução se faz em determinado ápice do mito do fim dos tempos. Lancemos fogo para queimar o pasto e arar a terra para nova, melhor e mais rendosa plantação. Talvez o tempo seja este.

Autor: João Damasio é estudante de jornalismo.

Comentários

  1. Mais uma vez, sinto-me mais do que contemplada em suas palavras. Só mesmo o melhor estudante de jornalismo do Planeta (sem exageros rs) para contestar o mestre Boff.

    ResponderExcluir
  2. Me inspira uma resposta. Espero ter tempo em breve para escrevê-la. Abraço, Marcus

    ResponderExcluir
  3. Uau João!!! Você é muito bom meu amigo. Parabéns!!!

    ResponderExcluir
  4. "Boff, você, um dos mais femininos dos homens (...)" essa frase sua é interessante. Por causa dela vou fugir do tema de sua postagem em meu comentário.

    Acredito que nossa sociedade fixou com tanta veemência características próprias a determinados biotipos, que mulheres são chamadas de Macho e homens de mulherzinha.

    Isso parece ser superficial, mas é tão forte que não se faz idéia.

    Até mais.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Diagnóstico - Giivago Barbosa

Ficha Paciente: Giivago Barbosa de Oliveira. Perfil: http://www.twitter.com/giivago Idade: 17 anos. Cidade: Goiânia / GO. Ocupação: Estudante. Restrições apresentadas: Gota de radicalismo motivada por convicção plena. Prescrições: Auto-moderação emocional. Diagnóstico rápido: Anacronismo criativo. Diagnóstico completo (para quem ousa entender): Caso surpreendente! Nunca avistei uma composição humana assim num jovem de dezessete anos. As dosagens de sua racionalidade são desmedidas, outro em seu lugar, seria um louco! Este garoto me parece um ser anacrônico que possui certo poder que desperta nos seus próximos a sensação inversa, sentem-se anacrônicos também. Como “He Man”, ele tem a força. Uma força incomparável. Sua presença é agente de mudanças no ambiente, quem tem olhos de ver isto é capaz de se impressionar com o campo magnético que caminha contíguo. A grande questão é saber se isto é um problema ou uma grande virtude. Detecto que são os dois ao mesmo...

Um relato de gratidão sobre a arte de Yashira

Quando eu era pequeno, lembro de ver a Yashira nas ruas de Palmelo. Ela era a louca e eu tinha medo dela, mas achava curioso. Uma parte de mim queria se aproximar dela, foi a parte que depois me levou a fazer curso de teatro e, quando eu atuava, eu lembrava um pouco dela e das performances que ela promovia nas ruas da cidade. Aí eu comecei a entender que era arte o que ela fazia. Mas era uma arte muito estranha, eu não achava bonito. Comecei a achar bonito quando me envolvi ativamente com movimentos ambientalistas durante uns cinco anos e vi que tudo o que ela fazia como arte era sustentável e que ela tinha uma mensagem ecológica. O ativismo dela não era pautado em um coletivo de políticas públicas como o meu, era um envolvimento por inteira. Junto, era uma causa espiritual. Eu entendi isso quando, espírita que sempre fui, tentava compreender o que era mediunidade em mim e ouvi ela dizendo que tudo era mediunidade nela. A arte, a ecologia, a espiritualidade... expandindo mutuamente s...

Uma lição de um Desaguar: a profissionalização do ator

A 13ª Mostra Desaguar do Centro de Educação Profissional em Artes Basileu França, que apresentou os espetáculos teatrais de formatura de alunos-atores nos dias 18 a 22 de novembro de 2014, me mostrou um pouco do que talvez eu apenas suspeitasse durante meus dois anos de estudo neste Teatro-Escola e me recordou importantes referências vivas e cotidianas durante meu processo de formação. Na verdade, sou especialista de generalidades humanas. Estudo comunicação e teatro, coisas que todo mundo nasce fazendo, coisas sem as quais a humanidade não seria. Atividades profissionais que sempre causam controvérsias burocráticas. O jornalismo perde seu diploma e todo mundo já fez 'teatrin'. Meu pêndulo balança muito para a comunicação popular e para o teatro do oprimido... Minha experiência até agora já me deu suficientes provas de que, como ferramentas pedagógicas, são libertadoras da condição humana. Por outro lado, meu pêndulo percebe o artista em si mesmo e sua investida profis...