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AUTODIAGNÓSTICO: Com toda beleza e abominação.

Todos prometem (e não cumprem) coisas no ano novo, eu não prometo nada.
Como flecha de ano novo, encerro 2010 e inicio 2011 com meu autodiagnóstico, encerrando a série "Diagnósticos" do meu blog.
Ficha
Paciente: João Damásio da Silva Neto.
Perfil: http://www.twitter.com/joaodamasio
Idade: 19 anos.
Cidade: Palmelo/Goiânia - GO.
Ocupação: Acadêmico de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo.
Restrições apresentadas: Egoísmo caótico que desregula a timidez.
Prescrições: Nunca permitir mais de uma hora ociosa.
Diagnóstico rápido: Antagonismo ao espelho.
Diagnóstico completo (para quem ousa entender):
Única regra para quem ler este diagnóstico: Tudo é mentira! Ora, como pode alguém se autodiagnosticar com sinceridade? Coisa de louco! Mas é minha obrigação, afinal fui ensinado a não julgar e estes diagnósticos mensais onde descrevo todo mundo nos ínfimos detalhes alcançados pela minha pouca visão não é menos que julgamento. Então, que pelo menos eu cumpra a segunda regra sobre julgar: Julgue somente a si mesmo. Por um lado eu até me divirto... e muito.
Começaria pela timidez, mas fui convencido de que esta não é um defeito. Vou tratar, então, da mazela mestra que é, ao mesmo tempo, mãe e pai das deformidades qualificadoras: o egoísmo. Exacerbadamente minha noção de medida, distancia, tempo, raciocínio, moral etc. são desfocadas. A tensão infográfica da minha visão de mundo é totalmente centralizada. O que vejo, olho, ouço, sinto ou falo cai com força sobre meus ombros e carrego sem pestanejar, porque preciso disto, é uma carga voluntariamente involuntária.
Egoísmo é tanto que até a cobrança é enorme comigo mesmo. Observo-me a cada momento, a cada palavra que lanço, a cada suspiro. E sempre me vejo torto. É como se eu me odiasse, mas o ápice do ódio é o amor, assim como o ressonar do trovão tem desfecho na calmaria.
Como tratar isto eu não sei. Não aparento ser quem eu penso que sou exatamente porque tento freneticamente, numa guerra cotidiana interior, ser o oposto dessas chagas que uso como túnica d’alma. Minha preocupação em ser melhor do que sou é tão grande que, enquanto me analiso demasiadamente, perco as chances de ser.
A timidez, portanto, não é um defeito. Mas, no meu caso, é uma característica que surge do terrível pai de todos os defeitos, o egoísmo. Tal pai, tal filho. Não que o egoísmo atinja somente a mim, mas eu estou nele, mais do que consigo analisar nos outros.
Considero-me anacrônico. Mas acho que na verdade eu vivo no tempo mais que correto, é neste momento e aqui que posso exercitar e vencer tudo isto que enfrento na multidão solitária da alma e que nem eu entendo. Ninguém vê. Eu sou santo ou maligno, tudo depende de um piscar de olhos.
Eu sou trêmulo e aparento, acho, insensatez, sonsidão, medo, fraqueza. Mas para falar a real, num diagnóstico que corresponde ao ser orgulhoso que sou mesmo, eu me amo, mas me amo muito mesmo. Faço tudo que puder por mim, menos deixar de ser obcecado por mim mesmo. Um louco, claro!
Não queira saber quantas vezes leio os textos que escrevo, quantas vejo minhas fotos e meus vídeos, eu me olho, me estrangulo. Eu sou uma coisa raivosa que se permite esconder, não para manter a aparência, mas para ser algo de bom, ao menos para os que convivem comigo. Me preocupo muito com qualquer pessoa a meu redor, mas antes preocupo-me com o que esta pessoa pensa sobre mim. Não é nada racional, se fosse já teria vencido isto.
Eu sou um acúmulo de muitos João’s. Quem me conheceu criança sabe o quanto eu mudei. Se acha que mudei muito fisicamente, não queira saber o quanto mudei internamente. Com certeza, os olhos dos meus interlocutores é que me regulam e dizem que eu sou. Porque eu capto maquinal e inconscientemente tudo o que se passa no ambiente. Por isto, em um minuto eu posso estar alegre e tagarela e no minuto seguinte, com a chegada ou simples passagem de alguém por ali, já estar introspectivo, tímido e silencioso.
O que gosto em mim é, exclusivamente a certeza de ser quem eu sou e saber o que quero de mim. E, por mais que eu seja mutante social, sou essência forte. Geralmente, acho que sou o oposto do que aparento ser, em quase tudo. Internamente eu sou uma coisa só. E meu problema é só entrar em conflito com o que eu sou enquanto produto social. Raramente acho iguais a mim e quando acho nem sempre ando entre eles.
Sou regido por uma constituição mais densa que a junção de toda deontologia codificada no mundo. Quero ser oito ou oitenta, mas sou sete e meio ou setenta e cinco, é mais ou menos isto.
Fui mais sincero do que achava que poderia. A única premissa era não me endeusar. Não posso me diagnosticar, como disse, é uma loucura. O fato é que me adoro. Até estes meus defeitos, por fazerem parte de mim, são pilares da minha construção (vida). Mesmo assim, não tem como eu saber. Eu sou muito mais do que posso ver e não posso me culpar por projetar-me como autodescrevi. Pronto, já enlouqueci. E posso concluir que me adoro com tudo que há de belo e feio no físico, mental e espiritual.
Com a palavra os “pimo lá da laje” (para quem não entendeu ainda):
Brow, eu só sei dizer eu. Matutar no eu. É o tal do egoísmo. Mas é com ele que eu me acho foda mesmo. O único que me desdenha assim sou eu. Eu, eu, eu... ah, velho, falar, na moral, que a parada é farta demais para mim.
Depoimento: Sou quem eu quero ser e estou onde queria estar. Eu prescrevi a mim mesmo não ter mais que uma hora ociosa por dia porque, além de ter lido sobre isto, sei que só a desocupação já é um passo para a loucura. E a ausência de bem já é um mal. Banalizei minha situação, mas como fiz com os outros farei comigo. Sem revisão!
E eu só queria me dizer, mais uma vez, que me adoro! Nunca vi alguém gostar mais do que faço, falo, escrevo ou vivo que eu mesmo.
Observações finais: Este diagnóstico é completamente suspeitável porque não é possível fazer os exames sozinho. Não há como sentar-me no divã e operar a aparelhagem de raio-x ao mesmo tempo.

Comentários

  1. Nossa... Acho que nunca conseguirei me explicar da maneira como você se explicou, espero um dia conseguir !
    Maravilhoso o seu texto João ! Quem me dera escrever desta maneira e espero também conseguir isto... Mas o que eu mais levarei com este seu texto é a prescrição de nunca permitir mais de uma hora ociosa. O ócio vem me consumindo muito e pra mim ele não é nada criativo...

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  2. João, você pode fazer uso com propriedade desta frase de Clarice: "Minha liberdade é escrever. A palavra é o meu domínio sobre o mundo." Tanto que nem consigo te contestar direito e se você que o egoísmo é seu defeito (que eu nunca percebi), não discuto! Mas é sempre assim que acontece - quando a gente se revela, os outros começam a nos desconhecer. (Adivinha de quem é esta frase rs) E que bom que também sabe assim como ela - Lispector (de novo) - que este defeito pode ser a base do seu ser, esse ser que você venera incontrolavelmente e que não se cansa de se ler, de se amar. Acho que essa admiração/amor/veneração que vc sente por si mesmo é contagios@.
    Já sinto saudade dos diagnósticos descarados; e a expectativa para o que virá depois deles é imensa.
    Por fim, volto a citar essa autora por quem inexplicavelmente temos admiração mútua: "Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre." Você tem acertado até agora, mas quando errar lembre-se dela mais uma vez: "Nem todos chegam a fracassar porque é tão trabalhoso, é preciso antes subir penosamente até enfim atingir a altura de poder cair."

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  3. Muito, muito bom! Só um egoísta (como somos - quase - todos) poderia se olhar e se ver com tanta propriedade. "Chega de escrever o mundo!", decidiu João. "É a minha vez de viver (e me ver) em palavras!"

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  4. Olá.

    Achei complicado entender algumas coisas, mas tentei, pode ter certeza.

    O egoísmo que vc se acusa é normal a todos nós. Ele só se torna ruim quando extrapola os limites e no seu caso, não me lembro disso acontecer.

    Acho muito maduro de sua parte buscar um diagnóstico com tanta emoção e sensibilidade. Profundo mesmo. Não sei se o caminho é esse, mas acredito no seu senso ético.

    Grande Abraço.

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  5. É, você pega pela ponta certa, o Eu. Vá se consumindo. Um dia, este Eu se gasta e você vai ver que a dor diminui. Belíssimo texto!

    Abraço,
    Minuzzi

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  6. Eu leio um textos destes e tenho certeza que fiz a escolha certa na hora de optar por você para ser um parceiro na realização de meu trabalho.
    Tanto diagnóstico só demonstrou sua humanidade tão bem descrita, característica própria de jornalistas de carne, osso e coração. Muito mais coração do que qualquer outra coisa.
    Parabéns!

    *Háaa... E o meu diagnóstico?

    Eula

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  7. É, e o diagnóstico da Eula rs.
    CAJD (Caro Amigo Jornalista Descaradamasio, ou João Damasio hehe) seu blog ficou mt louco, eu que já estava acostumada com o outro layout tô meio perdida agora, mas não vou deixar de segui-lo, aos poucos vou me achando e te achando aki rs.

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